terça-feira, 7 de agosto de 2012

Gentilezas incompartilhadas

Estive pensando que todos os dias são datas especiais para algumas pessoas. Hoje, alguém ganhou seu primeiro beijo ou se perdeu de paixão. Hoje, alguém nasceu ou se foi para sempre. Hoje pode ter sido o dia de se comemorar um aniversário, o primeiro emprego, uma conquista. Afinal, temos a estranha e deliciosa mania de marcar nossa vida com fatos que nos tocam: o dia que mudamos para a casa nova, o dia que embarcamos para a viagem de nossas vidas, o dia em que conhecemos nosso amor, o dia em que o perdemos, o dia em que passamos no vestibular, o dia da formatura, o dia do casamento - às vezes o nosso, às vezes os dos outros.  Isso me faz chegar a uma conclusão. O dia que estamos vivendo se torna especial por qualquer (ou por toda) razão. Bastaria a nós apontar em nossa mente o que de fato fizemos hoje. Marcar em nossa linha do pensamento instantes que ainda fogem ao nosso controle e que não são registráveis instantaneamente por lentes móveis espalhadas em nossas vidas.  A gentileza desconhecida nas calçadas, um sorriso franco e despretensioso de alguém que você nunca tinha visto, um agradecimento aberto ou um pedido de desculpas instantâneo e gentil. Às vezes, presos numa rede a qual chamamos de social, esquecemos de guardar tais momentos, muitos incompartilháveis, mas de intensa sinergia humana.  Para quantas destas tantas pessoas que passam literalmente por nossas vidas, hoje não foi um dia regado de fato por um momento único, simples e não menos intenso do que aqueles que julgamos especiais em nossas vidas? E nesse vai e vem urbano, a gente acaba por compreender coisas que não se explicam. O porque passamos por uma rua ou não seguimos um determinado caminho. Por que falamos uma determinada palavra ou optamos por um silêncio. Somos tocados por anjos ou por representantes legítimos da presença de uma mão divina. E assim, vamos colecionando instantes memoráveis que por uma equivocada velocidade nos passam despercebidos. Por isso, faço um apelo agora. Marcar na nossa timelife real, que numa tradução mais livre e estendida seria chamada por mim de "tempo da nossa vida real" as presenças que fazem a diferença. Que mudam nossos dias comuns e os fazem especiais. Que com palavras normais nos fazem sorrir, que nos encantam no inesperado e que nos confortam quando achamos que não temos mais nada. A essas pessoas especiais - as que sabem e as que desconhecem tamanho potencial - deixo marcado meu mais íntimo agradecimento e uma farta declaração de amor para que possam passar adiante todo o bem que a mim fazem.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Instante

Hoje descobri um vazio dentro de mim.  E sabe o que mais? Ele estava cheio de alegria e possibilidades. Senti que a vida se faz mesmo todo dia e que o passado não se descarta. Ele acumula o tempo num lugar chamado lembrança e nos dá um conforto danado de nos sentirmos amados! Hoje ainda a saudade doía em meu peito. Mas era de tanto amor em ter e não de se perder. Estranha sensação. Me parece mesmo que é felicidade pois o que habita em mim me faz crescer.

domingo, 22 de julho de 2012

Dúvida

Me pergunto como e as respostas que ouço não me compreendem. Se insisto, fico com sensação de não sair do lugar. Se deixo passar, vem aquela onda de que podia ter feito alguma coisa. E se ignoro, minto pra mim mesma. Não, não sou eu nesta hora. Nem tão pouco sou eu no instante seguinte. Me persigo e não encontro rastros. Observo sobre meus ombros e ainda vejo fragmentos. Partes de mim que fazem o todo que sou hoje. Que longe de ser algo completo, vem tentando ser mais a cada dia.

domingo, 15 de julho de 2012

E qual é o nome disso?

Hoje revirei meus papéis envelhecidos e encontrei uma moça de 26 anos com a paixão pulsante em seu coração.

16 de agosto de 1994

Desejar e saber que não tem como pedir. Conquistar e ter a nítida impressão que perde a cada dia. Parece castigo. Estado febril de paixão calada. De tão quieta parece não existir. O peito pergunta até quando e se entristece em saber ele mesmo a resposta de que nem o tempo sabe marcar. Ficam então a vagar aqueles que podiam ser únicos em companhias tristes do acaso. Mas ainda assim se tocam, pois um muda o outro. A cada dia não ser mais o mesmo. A cada encontro, conhecer um pouco além. Desvendar um segredo e abrir um sorriso. Fôlego para viver um pouco mais. Mas são assim, como razão e emoção, o frio e o calor, o preto e o branco. Um não seria o que é se o outro não se revelasse em sua plenitude. É assim que vivem e seguem. Separados e juntos. Somente a vida é grande o suficiente para aceitar a espera e receber a sublime sensação de encontrar.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O que vale a pena?

O que vale a pena nesta vida? Um  desejo ou um beijo? O vento na cara ou o frio na barriga? O telefone que toca  tarde da noite ou uma campainha ao amanhecer? Um pedido de ajuda ou um olhar de obrigado? Um rum ou uma cerveja?  Andar descalço na grama ou rolar na areia?  Comer pipoca ou sorvete? Tocar violão ou cantar no chuveiro?  Acordar ou dormir de novo? Sair de férias ou chegar em casa? Terminar ou recomeçar? Contar piada ou rir delas? Ler ou escrever? Creme hidratante  ou massagem?  Céu azul ou noite estrelada? Cinema ou teatro? Começar um livro ou terminar?  Almoço em família ou jantar a dois? Um filho ou dois? Jardim ou quintal? A surpresa ou a promessa?  Óculos ou lentes? Uma praia ou um banho de chuva? A verdade ou o que eu entendo dela? Amor incondicional ou companheiro? Esmalte ou baton? Hoje ou amanhã?  Doce ou Salgado? Vermelho ou preto? Dúvida ou certeza? Sim ou não? Como ou por que? Levar consigo ou trazer de volta? Sábado ou domingo? Jornal ou revista?  Perguntas ou respostas? Sabedoria ou ignorância? Conhecer ou descobrir? Amar ou amor? Ah, o que vale? Vale tudo isso.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Em frente

Um medo insiste. Vai no topo da cabeça rumo ao fim do pensamento e bagunça a ordem do corpo. Sopra um vento forte no rosto. Perco o fôlego. Vejo as folhas caidas se levantarem. É a tempestade que se anuncia. Meu cabelo acaria minha face. Minha pele não expulsa o tremor. Suponho não ter força. Caio dentro de mim. Desmaio no vazio de não ter fim. Não dormi, não sonhei. Chorei. E permaneço de pé. O que fica chamam vida. E eu aceito. Embalado pela saudade, o que me move ainda é amor.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Faz sentido sim

Comecei a circular todas as palavras que escrevi e não disse. Criei então uma teia. Alianças de medo e timidez. Apaguei, depois, todas aquelas que disse e nunca ousei escrever. Um lapso de tempo borrou minha memória. Guardei coisas que não me serviam. Foi então que joguei fora todas as palavras mal ditas. Assim mesmo, com espaço entre elas. Cada uma em sua hora, lançada num abismo de vento e poeira. Ia embora o que estava velho e sem sentido. Fui buscar em outro lugar a inspiração. Achei no silencio dentro de mim. No tum tum do coração. Agora sim. Nada pra dizer. Muito pra sentir. Faz sentido todo.