domingo, 6 de agosto de 2017

O que ficou lá

Já vivi dias assim. De intensa saudade pelo que era e de tamanha força em querer seguir o que sou. De velhas lembranças que ainda desejo e de dolorosos quereres que não vi chegar. De êxitos que não significam glórias, somente a verdade que não esqueci. Mas deixe lá o que segue atrás de mim. Dias que não chegam mais. Que não me alcançam e não me desafiam. E assim não podem me ferir. O que ainda vem traz sabor. Doce e maduro. Com frescor de manhãs ensolaradas e com a energia do vento forte no rosto. Da simplicidade em estar de pé, de caminhar e de sorrir. O ímpeto de seguir descobre novos olhares, um jeito novo de ver o que não se enxergava. Uma calma desacelera vida sem pressa, mas ainda cheia de vontade. Caminhos de pedras lisas meio a grama que cresce. Sombras de árvores que surgem após a curva. E então continuo a viver dias assim. Quem sou eu para parar?

domingo, 4 de setembro de 2016

Que amor é Esse?

Que amor é esse? Maduro que ainda cresce. Leve que ainda flutua. Colorido que ainda se fantasia. Companheiro que ainda caminha. Solto que ainda me gruda. Que amor é esse? Que canta enquanto durmo. Que sorri na mais doce lágrima. Que fortalece com olhos serenos. Que me reconhece de longe E que me afaga de perto. SIm, é esse amor. Que não obedece a lógica de ver e sentir. Que não acaba quando a voz se cala. Que não vê fim no que começou. Que extrapola fotografias em cima da mesa. Que sussurra lembranças infantis. E que amadurece em sonhos que peço a Deus para ter.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Passo rapidamente para deixar registrado que hoje percebi que não crio nada há mais de um ano. Que vida tola por ser essa minha que não me resta um tempo dedicado a uma das coisas que mais gosto de fazer? Que tempo é esse que existe só para ficarmos escravos de um cotidiano que nos engole? Bastariam 5 minutos para escrever algo que me satisfaça e que me deixe mais feliz. É o que o que fiz agora. Deixei de lado o stress do trabalho, a pressão do tempo, as pessoas me perguntando"-Tá ocupada?". Não, não estou. Estou livre para quem quer ser livre. Livre do obrigatório, do socialmente correto, do inevitável. Vou quebrar meu tempo e fazer cacos. E usar cada pedacinho a meu favor.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Perfume de jasmim


Depois que colhi flores no jardim, descobri que precisava de plantar novas.
Só assim conseguiria manter minha vida com perfume de jasmim.

E só depois que cresci, descobri que amor que nasce junto pode ser colhido
E não é preciso replantá-lo, pois os perfumes surgem em nossa memória
E fazem renascer flores onde jamais poderíamos imaginar.

domingo, 6 de abril de 2014

Colecionáveis

Nunca fui de colecionar coisas. Minha disciplina, ou melhor, a falta dela nunca me permitiu ser tão rígida ou apaixonada por objetos que superassem a minha vontade de liberdade e de certo modo de irresponsabilidade.

Mas com o passar do tempo, a vida tem me alertado para o fato de que colecionei sim. Pessoas amigas, momentos e , claro, lembranças boas que guardo dentro de mim. Que às vezes adormecidas retomam a minha mente como um rio quente e me enchem de motivos de alegria. Que, às vezes latentes, voltam pulsantes como coração apaixonado; as vezes propositalmente esquecidas retomam o caminho da consciência e mostram que o que passou não foi ruim, era só a vida seguindo seu curso.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bastaria um dia

Por esperança ou por alívio, encaramos o fim de ano como um tempo de recomeçar. Acabamos por fazer um balanço de tudo que vivemos de um verão a outro e nos imputamos uma conclusão. Descobrimos que demoramos 365 dias para não fazer o que propomos ou que tivemos coragem de fazê-lo; que esquecemos de dizer coisas que ficaram presas no último inverno; ou que não eliminamos o que nos incomoda - em nós e nos outros. Por outro lado, nos lembramos das conquistas, de um dia feliz, de uma companhia agradável, de uma descoberta, de um saboroso almoço, de risos e beijos. E assim, na balança da vida, etiquetamos o ano que se vai e o colocamos no baú de nossas lembranças como um ano bom ou um ano ruim.

Mas espere aí. Um ano é muita coisa. É tanto tempo que dá para sermos anjos e demônios, santos e pecadores, sonhadores e pés no chão, doces e amargos. Dá pra perdoar, dá pra esquecer, dá pra curar, dá pra celebrar, dá pra esperar, dá pra ganhar, dá pra perder. Um ano é tão longo que nem precisaria ser tanto. Pra muitos, um outono bastaria, ou talvez um setembro apenas. Em um dia - poderia apostar - que muita vida pode mudar. Sim, para muitos, bastaria um dia.

E se ao invés de um ano, tivéssemos apenas um dia para refazer nossa trajetória, consertar, corrigir, comemorar, prometer e realizar? Seríamos ágeis o bastante para aproveitá-lo ou deixaríamos passá-lo em branco?  Quando colocamos nossos pés no chão de uma manhã qualquer e damos nossos primeiros passos em direção contrária ao de nossa cama macia, alguma coisa nos move. Às vezes, ou quase sempre, não temos consciência desse motor. Uns chamam de sobrevivência, outros de esperança. Pode ser controle, pode ser energia, pode ser responsabilidade. Pode ser tudo isso junto.

O mais interessante disso tudo é que nossa vida é construída de dias e o passar dos anos passa a ser consequência, acúmulo de viver, eu diria; o que aconteceu conosco desde o último janeiro só tem mesmo importância se o que você fez ontem é coerente com suas expectativas daqui pra frente. Pois o que se constrói é o adiante, o que se vai viver.

Assim, o ano que estamos deixando em nossas vidas não é fruto que dá em árvore na beira da estrada, que temos opção de colher ou não. É trilha aberta por nós, pelas escolhas. Não só as de Deus, nem tão somente as nossas.  Mas é inerente a nós. Está tatuado, que não sai, que faz parte. Que não se descarta, que não tem jeito de não nos pertencer.

E não bastaria um dia para dizer eu te amo? Ou ainda quantos "eu te amo" você conseguiria dizer em um dia? Quanta saudade pode se acumular em um dia? Quantas gentilezas somos capazes de oferecer? Quanto trabalho pode nos realizar? Quantos sonhos podem ser construídos numa volta pra casa? Quantos quilômetros podemos correr ou atravessar numa manhã? Quantas malas podemos fazer ou desfazer? Quantas vezes podemos olhar o espelho? Quantas vezes podemos nos perfumar numa noite? Quantos copos d'água podemos beber? Quantas recusas podemos dar? Quantos livros podemos ler ou quantos traços podemos desenhar? Quantas pessoas podemos encontrar, reencontrar ou mesmo conhecer? Se "muitos" é a resposta para a maioria dessas perguntas, adianto a próxima: o que você realizará tendo um ano para tanto?

Uma certa noção de infinitude toma conta da minha mente. E aí começo a me lembrar dos dias que passei com mais raiva e menos amor. Lamentando mais e planejando menos. Comendo mais e exercitando menos. Muito celular e computador e olho no olho menos, dedicação de menos. Preocupação sobrando e prazer de menos. Falando mais e ouvindo menos. Dias passados em branco, acumulados no baú esquecido do tempo desperdiçado. Que não volta, mas que se recupera.

E bastaria um dia para mudar. E mais um dia, e mais um. E um outro. Um verão, um outono, um inverno e uma primavera. Sim, um ano feito de dias com manhãs corajosas, de gentilezas compartilhadas, de almoços em boas companhias, de tardes aquecidas com cheiro de café com torradas, de noites de amor, de esperanças renovadas, de saudades guardadas pela distância ou pela ausência, de dias cheios de sol ou recebidos com chuva, recheados de trabalho, plenos de vida. Dias que virão, queira você ou não. Dias de dificuldades, de superação, de mansidão. Dias de luta, de dor e de alívio. De força, de conquista, de sucesso. Dias de vida. E não bastaria um dia só para você agradecer. E não valeria a pena se não fosse assim. Felizes dias em 2014.


domingo, 29 de setembro de 2013

Setembro

Setembro passou.
Flores vão chegar, o sol vai brilhar mais intensamente 
E eu nem fiz ainda um bolo de chocolate.

Um dia igual ao outro anuncia que a vida passa. 
E nem reclamo, pois pra mim isso também é felicidade.

Um domingo de céu branco pode ser agradável.
Casa, casa e casa.
Dormir, acordar, preparar uma refeição.
Inverter as ordens das coisas.
E no final, esperar pelo outro dia com uma vontade danada de que as coisas sejam do jeito que você espera.

O que pode ser a felicidade se não esperar por ela?