terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bastaria um dia

Por esperança ou por alívio, encaramos o fim de ano como um tempo de recomeçar. Acabamos por fazer um balanço de tudo que vivemos de um verão a outro e nos imputamos uma conclusão. Descobrimos que demoramos 365 dias para não fazer o que propomos ou que tivemos coragem de fazê-lo; que esquecemos de dizer coisas que ficaram presas no último inverno; ou que não eliminamos o que nos incomoda - em nós e nos outros. Por outro lado, nos lembramos das conquistas, de um dia feliz, de uma companhia agradável, de uma descoberta, de um saboroso almoço, de risos e beijos. E assim, na balança da vida, etiquetamos o ano que se vai e o colocamos no baú de nossas lembranças como um ano bom ou um ano ruim.

Mas espere aí. Um ano é muita coisa. É tanto tempo que dá para sermos anjos e demônios, santos e pecadores, sonhadores e pés no chão, doces e amargos. Dá pra perdoar, dá pra esquecer, dá pra curar, dá pra celebrar, dá pra esperar, dá pra ganhar, dá pra perder. Um ano é tão longo que nem precisaria ser tanto. Pra muitos, um outono bastaria, ou talvez um setembro apenas. Em um dia - poderia apostar - que muita vida pode mudar. Sim, para muitos, bastaria um dia.

E se ao invés de um ano, tivéssemos apenas um dia para refazer nossa trajetória, consertar, corrigir, comemorar, prometer e realizar? Seríamos ágeis o bastante para aproveitá-lo ou deixaríamos passá-lo em branco?  Quando colocamos nossos pés no chão de uma manhã qualquer e damos nossos primeiros passos em direção contrária ao de nossa cama macia, alguma coisa nos move. Às vezes, ou quase sempre, não temos consciência desse motor. Uns chamam de sobrevivência, outros de esperança. Pode ser controle, pode ser energia, pode ser responsabilidade. Pode ser tudo isso junto.

O mais interessante disso tudo é que nossa vida é construída de dias e o passar dos anos passa a ser consequência, acúmulo de viver, eu diria; o que aconteceu conosco desde o último janeiro só tem mesmo importância se o que você fez ontem é coerente com suas expectativas daqui pra frente. Pois o que se constrói é o adiante, o que se vai viver.

Assim, o ano que estamos deixando em nossas vidas não é fruto que dá em árvore na beira da estrada, que temos opção de colher ou não. É trilha aberta por nós, pelas escolhas. Não só as de Deus, nem tão somente as nossas.  Mas é inerente a nós. Está tatuado, que não sai, que faz parte. Que não se descarta, que não tem jeito de não nos pertencer.

E não bastaria um dia para dizer eu te amo? Ou ainda quantos "eu te amo" você conseguiria dizer em um dia? Quanta saudade pode se acumular em um dia? Quantas gentilezas somos capazes de oferecer? Quanto trabalho pode nos realizar? Quantos sonhos podem ser construídos numa volta pra casa? Quantos quilômetros podemos correr ou atravessar numa manhã? Quantas malas podemos fazer ou desfazer? Quantas vezes podemos olhar o espelho? Quantas vezes podemos nos perfumar numa noite? Quantos copos d'água podemos beber? Quantas recusas podemos dar? Quantos livros podemos ler ou quantos traços podemos desenhar? Quantas pessoas podemos encontrar, reencontrar ou mesmo conhecer? Se "muitos" é a resposta para a maioria dessas perguntas, adianto a próxima: o que você realizará tendo um ano para tanto?

Uma certa noção de infinitude toma conta da minha mente. E aí começo a me lembrar dos dias que passei com mais raiva e menos amor. Lamentando mais e planejando menos. Comendo mais e exercitando menos. Muito celular e computador e olho no olho menos, dedicação de menos. Preocupação sobrando e prazer de menos. Falando mais e ouvindo menos. Dias passados em branco, acumulados no baú esquecido do tempo desperdiçado. Que não volta, mas que se recupera.

E bastaria um dia para mudar. E mais um dia, e mais um. E um outro. Um verão, um outono, um inverno e uma primavera. Sim, um ano feito de dias com manhãs corajosas, de gentilezas compartilhadas, de almoços em boas companhias, de tardes aquecidas com cheiro de café com torradas, de noites de amor, de esperanças renovadas, de saudades guardadas pela distância ou pela ausência, de dias cheios de sol ou recebidos com chuva, recheados de trabalho, plenos de vida. Dias que virão, queira você ou não. Dias de dificuldades, de superação, de mansidão. Dias de luta, de dor e de alívio. De força, de conquista, de sucesso. Dias de vida. E não bastaria um dia só para você agradecer. E não valeria a pena se não fosse assim. Felizes dias em 2014.


domingo, 29 de setembro de 2013

Setembro

Setembro passou.
Flores vão chegar, o sol vai brilhar mais intensamente 
E eu nem fiz ainda um bolo de chocolate.

Um dia igual ao outro anuncia que a vida passa. 
E nem reclamo, pois pra mim isso também é felicidade.

Um domingo de céu branco pode ser agradável.
Casa, casa e casa.
Dormir, acordar, preparar uma refeição.
Inverter as ordens das coisas.
E no final, esperar pelo outro dia com uma vontade danada de que as coisas sejam do jeito que você espera.

O que pode ser a felicidade se não esperar por ela?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Desconectante

Por mais que a vontade lute contra a realidade nossos sonhos insistem em se apresentar distantes.
E por mais que eu tente entender o que se passa, mas difícil se torna me compreender.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

#diferente

O que é ser diferente? Receio que seja o desconhecido ou o muito distante. Não, nada disso. Nem tão pouco é o que nos faz temer.
Talvez diferente seja o que mais admiramos: ou porque não temos ou porque desejamos muito. Diferente é se propor a seguir um outro caminho. Ou até mesmo a seguir o mesmo, mas de outra maneira. 
Posso ser diferente, sem perder a essência. Ou ainda insistindo nela é que seremos.
Fora do comum é algo grandioso, às vezes diferente é ser rejeitado. Mas ora não poderiam eles ser sinônimos? Pois afinal não seguir padrões é estar longe do comum, diferente de algo. Ou não seria?
Diferente é achar atalhos, encontrar o inusitado e tratá-lo com respeito. É buscar uma volta num caminho sem rumo ou até mesmo encontrar o rumo no caminho da volta. 
Diferente é ser imprevisível, quando não esperam que sejamos. É bancar a loucura própria e não apontar a loucura do outro, é descobrir que criar maneiras pode ser simplesmente aceitar a mania alheia.
Diferente é destacar-se, ser lembrado. Não por um protesto ou por um figura estranha. É trocar o inesperado pelo amado, o suposto pelo efetivo.
Diferente não é ser estranho. Muito pelo contrário. O estranho não importa, não traz pra dentro de si. O diferente olha por dentro, revela o oculto e abre janelas.
Diferente não é estar à margem. É agregador, é agir por fora para unir que está dentro. É resultado. Sim, diferente é chegar ao final e encontrar algo que tenha valido muito a pena.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pincéis de dedo

Colori minha vida com pincéis de dedo.
Toquei no que valia a pena 
e mudei o rumo com a palma da minha mão.
Abracei, acarinhei e amei imprimindo traços, rastros.
Uni as pontas mais extremas do meu corpo.
Orei, perdoei, confessei.
Apaguei marcas que eles deixaram.
Li ondas azuis que foram deixadas por eles como herança.
Desejei figuras que nunca conseguiram criar.
Sim, colori minha vida com pincéis de dedo.
Cores de vida.
Desenhos de desejo.
Sombras e rascunhos sem moldura.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Longe. Difícil definir tal distância.
De dentro insiste em existir.
Diante de mim cria asas.
De fora se acalma.

Longe. Difícil definir tal distância.
De dentro insiste em existir.
Diante de mim cria asas.
De fora se acalma.