quarta-feira, 16 de junho de 2021

Das palavras

Eu estava lendo Clarice e ela me disse ter uma alma prolixa e usar poucas palavras. Em outro momento, sentencia: “Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.”

Bem, sendo assim, concluo que a mim resta também escrever. Palavras escritas podem ser mais doces que as faladas. E me desafio nessa noite fria. Não para que as respostas cheguem dizendo basta, mas para que as perguntas antes caladas sejam ditas para existir. E tragam talvez alguma razão para a busca incessante. E quem sabe, o que virá será forjado de sentenças de boas reflexões.

Não quero jogar responsabilidades naquilo que ainda desconheço e nem apostar que os passos ao futuro trarão conforto ao que vivi no passado. Mas sei que o que vejo na paisagem do caminho são bordas infinitas de possíveis viveres.

Interessante descobrir que ainda não sabemos. Ou ainda, que sabemos o que ainda não se revelou. Mas que se mexe por dentro, muda a mente, acelera o sangue e conduz sensações estranhas de viver; que se confundem na fronteira do saber e do sentir. E que, nessa trajetória de tentar se libertar, lutam entre si  e não se desfazem de uma estranha proteção de serem o que não precisam ser.

Suponho certezas ou dúvidas. De qualquer maneira, algo fora do lugar parece estar. Um sentir fora do tempo.  Fora de nós. À parte do que imaginamos ser. Ou além de nós. Não que haja encaixe perfeito, isso pode habitar no mais longínquo e desejável  sentido da vida, mas nas noites e dias que enfrentamos, confirmamos diariamente que nosso caminhar não é ciência exata.

Difícil de entender essa estranha mania de querer entender.